Explique como as vacâncias afetam a resistência mecânica dos materiais.
Passo 1
O enunciado pede para entendermos como as vacâncias – isto é, lacunas de átomos na rede cristalina – atuam sobre a resistência mecânica de um material. Para isso vamos ver (a) o que são vacâncias, (b) como elas interagem com discordâncias e (c) de que forma afetam propriedades como limite de escoamento, dureza, ductilidade, fluência (creep) e tenacidade.
Passo 2
Definição e concentração de vacâncias
Uma vacância é um ponto-defeito onde falta um átomo em sua posição regular na rede. Em equilíbrio térmico sua fração depende da energia de formação
e da temperatura
, aproximadamente por
Uma vacância é um ponto-defeito onde falta um átomo em sua posição regular na rede. Em equilíbrio térmico sua fração
onde
é a constante de Boltzmann. Assim, quanto maior a temperatura, maior o número de vacâncias e maior será sua influência sobre o comportamento mecânico.
Passo 3
Interação vacância–discordância e efeito na resistência à escoamento
Cada vacância cria um campo de tensões dilatacionais na vizinhança. Esse campo interage com discordâncias (defeitos lineares que carregam deformação plástica). Há dois efeitos principais:
Cada vacância cria um campo de tensões dilatacionais na vizinhança. Esse campo interage com discordâncias (defeitos lineares que carregam deformação plástica). Há dois efeitos principais:
- Aumento local de tensões que pode “prender” discordâncias, elevando ligeiramente o limite de escoamento (fortalecimento pontual).
- Mais importante: vacâncias viabilizam o fenômeno de climb de discordâncias, pois a discordância “salta” para fora de seu plano por emissão ou absorção de vacâncias. Quanto mais vacâncias, mais fácil esse movimento fora do plano de escorregamento, reduzindo a resistência à fluência em altas temperaturas.
Passo 4
Vacâncias e fluência (creep) em regime de altas temperaturas
Em materiais submetidos a tensões moderadas por longos tempos e (
= temperatura de fusão), a deformação plástica ocorre por difusão de vacâncias. Temos dois mecanismos clássicos:
• Nabarro–Herring (difusão pelo interior dos grãos)
• Coble (difusão ao longo dos contornos de grão)
Em ambos, a facilidade de difusão de vacâncias leva a taxas maiores de fluência, portanto a redução da resistência ao fluência sob carga contínua.
Em materiais submetidos a tensões moderadas por longos tempos e
• Nabarro–Herring (difusão pelo interior dos grãos)
• Coble (difusão ao longo dos contornos de grão)
Em ambos, a facilidade de difusão de vacâncias leva a taxas maiores de fluência, portanto a redução da resistência ao fluência sob carga contínua.
Passo 5
Aglomeração de vacâncias, nucleação de vazios e tenacidade
Com altas densidades de vacância ou sob tensões de tração, vacâncias podem se aglomerar formando núcleos de vazios. Esses vazios crescem e se coalescem em trincas, reduzindo a tenacidade e a ductilidade do material e favorecendo a fratura dúctil por cavitação.
Com altas densidades de vacância ou sob tensões de tração, vacâncias podem se aglomerar formando núcleos de vazios. Esses vazios crescem e se coalescem em trincas, reduzindo a tenacidade e a ductilidade do material e favorecendo a fratura dúctil por cavitação.
Resposta
De modo geral, as vacâncias têm dois papéis opostos: (1) criam campos de tensão que podem barrar discordações e aumentar um pouco o escoamento em baixas temperaturas; mas (2) principalmente facilitam o climb de discordações e a difusão que leva à fluência (creep) e ao surgimento de vazios, o que diminui a resistência mecânica, a durabilidade em altas temperaturas e a tenacidade do material.