(Fgv 2018) Na sua faceta mais radical, a Revolução Francesa promoveu uma certa redistribuição de terra, por meio de medidas como a venda dos bens nacionais. Entretanto, nesse processo de construção de uma ordem jurídica burguesa, o fim da escravidão não seria, no final das contas, incluído. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 trazia, no seu artigo 1º, o princípio segundo o qual “os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”. Mas a história revolucionária mostrou que essa fórmula clássica do liberalismo político foi capaz de gerar, de imediato, posturas contraditórias entre os diferentes atores históricos do período, que interpretavam os termos liberdade e igualdade à luz de suas próprias aspirações e interesses.
(Laurent Azevedo Marques de Saes. A Societé des Amis des Noirs e o movimento antiescravista sob a Revolução Francesa (1788-1802). Tese (Doutorado em História Social) FFLCH, USP. 2013. Adaptado)
Nesse contexto, é correto afirmar que
a) a Revolução Francesa, embora conduzida em nome de princípios universais de liberdade e igualdade, acabou incorporando a escravidão colonial na nova ordem jurídica, sem que essa instituição tivesse sido posta em discussão nem sequer no período mais radical do processo revolucionário, no momento no qual os jacobinos tentaram dirigir os rumos da revolução.
b) os princípios de liberdade e igualdade, para a maioria dos homens nas assembleias revolucionárias, não encontravam fronteiras ou limites ditados pela condição da França de potência colonial, mas representavam valores universais a serem difundidos inclusive para a América a partir de Paris, ainda que a ascensão de Napoleão tenha freado a propagação das ideias revolucionárias.
c) o império colonial francês à época girava em torno da “pérola das Antilhas”, São Domingos (futuro Haiti), colônia que havia projetado a França para o topo do mercado internacional de produtos tropicais e que transformou o sucesso da produção caribenha na base da riqueza burguesa dos portos franceses, o que não impediu que jacobinos e sans culottes defendessem a abolição e a independência colonial desde julho de 1789.
d) a questão colonial evidenciava, sob certos aspectos, os limites da Revolução Francesa, liberal e burguesa, pois dentro da ótica mercantilista que orientou a economia francesa desde o século XVII, a prosperidade da Nação dependia da balança comercial favorável e, nesse sentido,
o papel do comércio com as colônias e da reexportação dos produtos proporcionados por esse comércio era visto como capital.
(Laurent Azevedo Marques de Saes. A Societé des Amis des Noirs e o movimento antiescravista sob a Revolução Francesa (1788-1802). Tese (Doutorado em História Social) FFLCH, USP. 2013. Adaptado)
a) a Revolução Francesa, embora conduzida em nome de princípios universais de liberdade e igualdade, acabou incorporando a escravidão colonial na nova ordem jurídica, sem que essa instituição tivesse sido posta em discussão nem sequer no período mais radical do processo revolucionário, no momento no qual os jacobinos tentaram dirigir os rumos da revolução.
b) os princípios de liberdade e igualdade, para a maioria dos homens nas assembleias revolucionárias, não encontravam fronteiras ou limites ditados pela condição da França de potência colonial, mas representavam valores universais a serem difundidos inclusive para a América a partir de Paris, ainda que a ascensão de Napoleão tenha freado a propagação das ideias revolucionárias.
c) o império colonial francês à época girava em torno da “pérola das Antilhas”, São Domingos (futuro Haiti), colônia que havia projetado a França para o topo do mercado internacional de produtos tropicais e que transformou o sucesso da produção caribenha na base da riqueza burguesa dos portos franceses, o que não impediu que jacobinos e sans culottes defendessem a abolição e a independência colonial desde julho de 1789.
d) a questão colonial evidenciava, sob certos aspectos, os limites da Revolução Francesa, liberal e burguesa, pois dentro da ótica mercantilista que orientou a economia francesa desde o século XVII, a prosperidade da Nação dependia da balança comercial favorável e, nesse sentido,
o papel do comércio com as colônias e da reexportação dos produtos proporcionados por esse comércio era visto como capital.
Passo 1
O enunciado trata da contradição entre os princípios universalistas da Revolução Francesa — sobretudo a igualdade e a liberdade proclamadas na Declaração de 1789 — e a manutenção da escravidão colonial. Vamos revisar o que cada alternativa afirma e confrontar com a realidade histórica.
Passo 2
A alternativa (a) diz que a escravidão colonial jamais foi debatida mesmo no auge do radicalismo jacobino. Na verdade, em 1794 a Convenção Nacional, sob influência jacobina, decretou a abolição da escravidão nos domínios franceses. Logo, a escravidão foi sim objeto de discussão e chegou a ser extinta legalmente naquele momento. Portanto, (a) está incorreta.
Passo 3
A alternativa (b) sustenta que a maioria dos revolucionários via liberdade e igualdade como valores sem limites territoriais, prontos para difusão global imediata. Embora houvesse discurso universalista, na prática a Assembleia não aplicou esses direitos às colônias até meados de 1794, e o envio de ideias revolucionárias à América foi restrito e depois interrompido pelo golpe de 18 de Brumário e por Napoleão. Assim, (b) exagera a aplicação imediata e universal dos ideais, sendo também incorreta.
Passo 4
A alternativa (c) afirma que em julho de 1789 jacobinos e sans-culottes já defendiam abolição e independência de São Domingos. Na verdade, o movimento de independência haitiana só se inicia em 1791 e não foi impulsionado por sans-culottes franceses, mas por colonos livres e escravos insurgentes. Logo, (c) mistura cronologia e sujeitos incorretamente, estando errada.
Passo 5
A alternativa (d) aponta que a dependência do comércio colonial e da reexportação de produtos ultramarinos revela um limite da revolução liberal-burguesa, pois a prosperidade nacional continuava atrelada a uma balança comercial favorável. Esse argumento coincide com o contexto: o antigo mercantilismo e o interesse econômico sobre as colônias impuseram freios à aplicação imediata dos princípios de liberdade e igualdade no mundo colonial. Por isso, (d) está correta.
Resposta
d) a questão colonial evidenciava, sob certos aspectos, os limites da Revolução Francesa, liberal e burguesa, pois dentro da ótica mercantilista que orientou a economia francesa desde o século XVII, a prosperidade da Nação dependia da balança comercial favorável e, nesse sentido, o papel do comércio com as colônias e da reexportação dos produtos proporcionados por esse comércio era visto como capital.