23.2 É possível provar que não existe algo como a “força vital”? Explique.
Passo 1
O enunciado pergunta se é possível “provar” que não existe algo como a “força vital”. O tema aqui é filosofia da ciência e bioquímica histórica: vamos precisar entender o que seria a hipótese vitalista (a ideia de que organismos vivos têm uma energia especial que não pode ser reproduzida quimicamente) e como o método científico lida com a negação de entidades hipotéticas.
Passo 2
Primeiro, recordemos o episódio clássico de Friedrich Wöhler (1828): ele sintetizou ureia (
) a partir de sais inorgânicos, sem usar nenhum “ingrediente vivo”. Esse experimento foi o primeiro a mostrar que compostos orgânicos podem ser obtidos por reações químicas convencionais, eliminando a necessidade de uma força vital especial para produzir moléculas “da vida”.
Passo 3
Agora, conceitos de filosofia da ciência: não se “prova” categoricamente que algo não existe, porque não há como esgotar todas as possibilidades do universo. O que se faz é formular hipóteses e testar predições. A hipótese vitalista previa que nenhum composto orgânico típico da vida poderia ser sintetizado por vias puramente químicas. Wöhler e sucessores falsificaram essa predição ao mostrar sínteses cada vez mais complexas.
Passo 4
Com o avanço da bioquímica, praticamente todas as moléculas de interesse biológico foram obtidas ou reproduzidas em laboratório (proteínas, açúcares, lipídeos, vitaminas etc.). Cada nova síntese é um teste que falha em confirmar a necessidade de uma “força vital”. Assim, embora não tenhamos uma prova lógica absoluta de “não existência”, a acumulação de evidências empíricas elimina qualquer justificativa razoável para manter o vitalismo.
Passo 5
Em suma, na ciência não se prova logicamente a inexistência de algo, mas torna-se tão insustentável a hipótese contrária que ela é abandonada. O vitalismo foi rejeitado porque todos os compostos orgânicos podem ser explicados e reproduzidos pela química, sem apelar a forças especiais.
Resposta
Não é possível provar logicamente que “força vital” não existe de modo absoluto, mas a sucessão de sínteses orgânicas (começando por Wöhler) falsificou a única predição testável do vitalismo. Assim, a comunidade científica abandonou a ideia por falta de qualquer evidência que a apoiasse.