Relacione mitose e câncer, explicando como alterações no controle do ciclo celular podem levar à formação de tumores.

Passo 1

O enunciado pede que eu relacione mitose e câncer, explicando como alterações no controle do ciclo celular podem levar à formação de tumores.
Informações relevantes dadas (implícitas na pergunta): é necessário explicar o que é mitose, como o ciclo celular é controlado normalmente e quais tipos de alterações (mutações, perda de controle) transformam divisão celular normal em proliferação tumoral. Não há dados numéricos nem figura a analisar — é uma questão conceitual.

Passo 2

O que é mitose e onde ela aparece no ciclo celular.
A célula passa por fases organizadas chamadas de ciclo celular: G_1 (crescimento e checagem inicial), S (síntese de DNA), G_2 (preparação final) e M (mitose, divisão propriamente dita). Mitose é a fase M em que os cromossomos duplicados são segregados para as duas células-filhas. Mitose inclui etapas chamadas prófase, metáfase, anáfase, telófase e citocinese — cada etapa cuida de condensar cromossomos, alinhá-los, separar as cromátides-irmãs e dividir o citoplasma. O objetivo da mitose é garantir que cada célula filha receba um conjunto correto de cromossomos.

Passo 3

Como o ciclo celular é controlado normalmente (principais elementos e ideias).
  • Transições entre fases são controladas por complexos proteicos chamados ciclinas e quinases dependentes de ciclina: ciclinas + CDK formam complexos que ativam passos como G_1\to S e G_2\to M. Por exemplo, cyclin\\ D com CDK4/6 atua no início do ciclo.
  • Existem pontos de verificação (checkpoints): G_1/S verifica integridade do DNA antes da replicação; G_2/M verifica se a replicação foi completa e sem danos; o checkpoint da placa metafásica (spindle assembly checkpoint) garante que todos os cromossomos estejam bem presos aos fusos antes de separar as cromátides.
  • Proteínas “guardas” regulam esses checkpoints: p53 (sinaliza dano ao DNA, pode pausar o ciclo ou induzir morte celular), Rb (inibe progressão G_1\to S), inibidores de CDK como p21 e p27.
  • Há sistemas de reparo do DNA que corrigem danos antes que a célula prossiga e mecanismos de apoptose (morte programada) que eliminam células com danos irreparáveis.
    Esses mecanismos garantem divisão ordenada e mantém a estabilidade genética.

Passo 4

Tipos de alterações que quebram o controle e como elas atuam (mecanismos concretos).
  • Ativação de proto-oncogenes em oncogenes: mutações que deixam proteínas de sinalização “sempre ligadas” levam a estímulo contínuo da progressão do ciclo. Exemplo: mutação em RAS torna a proteína constitutivamente ativa, enviando sinal de proliferação mesmo sem estímulo externo. Amplificação de cyclin\\ D ou superexpressão de CDK também acelera a passagem G_1\to S.
  • Perda de supressores tumorais: mutações ou deleções em genes como p53 ou RB eliminam freios que verificam danos ou limitam entrada em S. Se p53 está inativo, células com DNA danificado não param para conserto nem entram em apoptose. Mutação em BRCA1/2 prejudica reparo de quebras de fita dupla, aumentando mutações acumuladas.
  • Inativação de inibidores de CDK: perda de p21 ou p27 libera CDK para avançar o ciclo sem controle.
  • Ação de vírus oncolíticos: por exemplo, proteínas virais E6 e E7 do HPV degradam p53 e Rb, respectivamente, removendo checkpoints e favorecendo proliferação.
  • Defeitos nos checkpoints mitóticos: falha no checkpoint da placa metafásica permite segregação incorreta dos cromossomos (missegregação), gerando aneuploidia.

Passo 5

Consequências diretas desses defeitos para mitose e estabilidade genômica.
  • Entrada indevida em S ou M sem conserto do DNA causa replicação de lesões e passagem de mutações para filhas.
  • Erros mitóticos (ex.: fusos mal formados, centrômeros defeituosos) resultam em perda ou ganho de cromossomos (aneuploidia). Aneuploidia e quebras cromossômicas aumentam a instabilidade genômica, que por sua vez facilita o surgimento de novas mutações vantajosas para a célula tumoral.
  • A célula pode também ativar telomerase para evitar senescência e ganhar “imortalidade replicativa”, permitindo divisões além do limite normal.

Passo 6

Como isso vira tumor na prática — visão em passos evolutivos simplificada.
  1. Uma célula sofre uma alteração (por exemplo, mutação em p53 ou ativação de RAS).
  2. Essa alteração dá vantagem (divisão mais rápida, falha em morrer), gerando expansão clonal daquela célula.
  3. Durante muitas divisões as células acumulam novas alterações (mais oncogenes ativados, mais supressores perdidos, defeitos de reparo), tornando a população cada vez mais instável e agressiva.
  4. Além de proliferação descontrolada, surgem fenótipos adicionais necessários para formar um tumor clinicamente relevante: angiogênese (criar vasos para nutrir o crescimento), invasão de tecidos vizinhos e, eventualmente, capacidade de metastatizar.
    Ou seja, não basta apenas “dividir demais” — a perda de controle sobre mitose e checkpoints produz diversidade e seleção que favorecem um clone tumoral.

Passo 7

Exemplos clínicos e terapêuticos que conectam mitose/ciclo celular e câncer (para fixar).
  • Mutações em TP53 (gene de p53) são muito comuns em muitos cânceres; isso explica por que falha de checkpoints é tão importante.
  • Inibidores de CDK4/6 são medicamentos que tentam reimpor um freio ao ciclo em certos cânceres de mama com superexpressão de cyclin\\ D.
  • Cânceres com defeitos em reparo por recombinação homóloga ( BRCA1/2) são sensíveis a inibidores de PARP — exploram a fraqueza no reparo do DNA.
  • Alvos que interferem no fuso mitótico (p.ex. taxanos que estabilizam microtúbulos) provocam falha na mitose e morte das células tumorais rapidamente proliferativas.

Passo 8

Como responder essa pergunta na prova (receita prática, ponto a ponto).
  1. Defina mitose e coloque-a no contexto do ciclo celular ( G_1, S, G_2, M).
  2. Explique os mecanismos de controle (ciclinas/ CDK, checkpoints G_1/S, G_2/M, spindle checkpoint, p53, Rb).
  3. Dê exemplos de como esses controles falham (ativação de oncogenes como RAS, perda de supressores como p53, ação viral como E6/E7, defeitos de reparo BRCA).
  4. Explique as consequências (proliferação descontrolada, aneuploidia, instabilidade genômica, imortalidade replicativa, angiogênese/invasão).
  5. Se der tempo, cite um exemplo clínico ou terapêutico curto (CDK4/6 inibidores, taxanos, PARP).
    Essa estrutura mostra entendimento conceitual e exemplos concretos — bom para a prova.

Resposta

Mitose é a divisão celular que replica e distribui cromossomos às células-filhas; alterações no controle do ciclo celular — como ativação de oncogenes ( RAS, superexpressão de cyclin\\ D), perda de supressores ( p53, RB), falhas nos checkpoints ( G_1/S, G_2/M, spindle checkpoint)) e defeitos no reparo do DNA ( BRCA) — permitem que células entrem em S e M sem consertos, evitem apoptose e acumulem instabilidade genômica (aneuploidia e mutações), levando à proliferação descontrolada, formação de clones com vantagem proliferativa e, eventualmente, ao desenvolvimento de tumores.

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