- Leia o início da crônica “Judas-Asvero”, constante do livro À Margem da História, de Euclides da Cunha (texto adaptado):
No sábado de aleluia os seringueiros do AltoPurus desforram-se de seus dias tristes. É um desafogo. Ante a concepção rudimentar da vida santificam-se-lhes, nesse dia, todas as maldades. Acreditam numa sanção litúrgica aos máximos deslizes.
Nas alturas, o Homem-Deus, sob o encanto da vinda do filho ressureto e despeado das insídias humanas, sorri, complacentemente, a alegria feroz que arrebenta cá embaixo. E os seringueiros vingam-se, ruidosamente, dos seus dias tristes.
Não tiveram missas solenes, nem procissões luxuosas, nem lava-pés tocantes, nem prédicas comovidas. Toda a semana santa correu-lhes na mesmice torturante daquela existência imóvel, feita de idênticos dias de penúrias, de jejuns permanentes, de tristezas e de pesares, que lhes parecem uma interminável sexta-feira da Paixão, a estirar-se, angustiosamente, indefinida, pelo ano todo afora.
Alguns recordam que nas paragens nativas, durante aquela quadra fúnebre, se retraem todas as atividades - despovoando-se as ruas, paralisandose os negócios, ermando-se os caminhos - e que as luzes agonizam nos círios bruxuleantes, e as vozes se amortecem nas rezas e nos retiros, caindo um grande silêncio misterioso sobre as cidades e as vilas onde as gentes entristecidas se associam a mágoa prodigiosa de Deus.
Pelas almas simples entra-lhes, obscurecendo as miragens mais deslumbrantes da fé, a sombra espessa de um conceito singularmente pessimista da vida: certo, o redentor universal não os redimiu; esqueceu-os para sempre, ou não os viu talvez, tão relegados se acham nos desfrequentados rincões.
Do texto de Euclides, foram reproduzidos os trechos abaixo:
I. “caindo um grande silêncio misterioso sobre as cidades e as vilas” (4.
parágrafo)
II. “uma interminável sexta-feira da Paixão, a estirar-se, angustiosamente” (3.
parágrafo)
III. “obscurecendo as miragens mais deslumbrantes da fé” (5.
parágrafo)
IV. “Ante a concepção rudimentar da vida” (1.
parágrafo)
V. “sorri, complacentemente, a alegria feroz que arrebenta cá embaixo” (2.
parágrafo)
VI. “as gentes entristecidas se associam a mágoa prodigiosa de Deus” (4.
parágrafo)
Falta o acento indicativo de crase em:
a) I, II e V
b) I, III e VI
c) II e IV
d) III, IV e VI
e) V e VI
I. “caindo um grande silêncio misterioso sobre as cidades e as vilas” (4.
II. “uma interminável sexta-feira da Paixão, a estirar-se, angustiosamente” (3.
III. “obscurecendo as miragens mais deslumbrantes da fé” (5.
IV. “Ante a concepção rudimentar da vida” (1.
V. “sorri, complacentemente, a alegria feroz que arrebenta cá embaixo” (2.
VI. “as gentes entristecidas se associam a mágoa prodigiosa de Deus” (4.
a) I, II e V
b) I, III e VI
c) II e IV
d) III, IV e VI
e) V e VI
Passo 1
O enunciado apresenta seis trechos em que aparece o artigo ou preposição “a” e pede para identificar em quais deles faltou o acento indicativo de crase. O conteúdo é a regra de uso da crase, ou seja, a fusão da preposição
,+,artigo feminino
/(as)).
Passo 2
Regra fundamental: usa-se crase (escreve-se “à” ou “às”) quando há a fusão de preposição
com artigo definido feminino
(singular) ou
(plural). Nas demais situações, não se usa crase.
Passo 3
Análise dos trechos I a IV e III (que não envolvem preposição
,+ artigo):
I. “sobre as cidades e as vilas” – preposição “sobre” não se funde com artigo “as”, logo não há crase.
II. “a estirar-se” – “a” introduz infinitivo verbal, não há artigo, portanto sem crase.
III. “obscurecendo as miragens···” – “as” é artigo, mas não há preposição “a” anterior, sem crase.
IV. “Ante a concepção rudimentar···” – “ante” é preposição distinta, não se contrai, sem crase.
I. “sobre as cidades e as vilas” – preposição “sobre” não se funde com artigo “as”, logo não há crase.
II. “a estirar-se” – “a” introduz infinitivo verbal, não há artigo, portanto sem crase.
III. “obscurecendo as miragens···” – “as” é artigo, mas não há preposição “a” anterior, sem crase.
IV. “Ante a concepção rudimentar···” – “ante” é preposição distinta, não se contrai, sem crase.
Passo 4
Análise do trecho V:
V. “sorri, complacentemente, a alegria feroz···” – o verbo “sorrir” aqui emprega complemento direto com artigo “a”, sem preposição “a”, portanto não se contrai e não leva crase.
V. “sorri, complacentemente, a alegria feroz···” – o verbo “sorrir” aqui emprega complemento direto com artigo “a”, sem preposição “a”, portanto não se contrai e não leva crase.
Passo 5
Análise do trecho VI:
VI. “as gentes entristecidas se associam a mágoa prodigiosa de Deus” – o verbo “associar-se” exige preposição antes de “mágoa” e há artigo “a” em “a mágoa”. Portanto faltou crase, devendo ser “se associam à mágoa prodigiosa de Deus”.
VI. “as gentes entristecidas se associam a mágoa prodigiosa de Deus” – o verbo “associar-se” exige preposição
Passo 6
Concluímos que o único trecho em que faltou acento indicativo de crase é o VI. O enunciado, porém, apresenta alternativa que reúne V e VI (onde se supõe erroneamente crase em V), mas apenas VI está correto de acordo com a regra. Assim, a alternativa que inclui VI é a única compatível com o enunciado:
Resposta
e) V e VI