Um supermercado recebeu três garrafas de vinho branco, todas do mesmo lote, como devolução de três clientes distintos, que alegaram ter a bebida sabor desagradável e amargo, além de cheiro levemente acético. No rótulo do vinho havia a indicação de graduação alcoólica de 12 \% (fração em volume). Um técnico realizou a dosagem do ácido acético em alíquotas de 50,00 \mathrm{~mL} retiradas de cada uma das garrafas, em triplicata, titulando com \mathrm{NaOH} 1,300 \mathrm{~mol} \mathrm{~L}^{-1} (solução-padrão) e usando 2 a 8 gotas de indicador para cada 100 mL da solução a titular. O consumo médio do titulante é apresentado no quadro abaixo: (densidade do álcool etílico 0,8 \mathrm{~g} \mathrm{~cm}^{-3} ) e (Ka do ácido acético 1,75 \times 10^{-5} )
Amostra Volume médio de \mathbf{N a O H}(\mathbf{m L})
Primeira garrafa 35,45
Segunda garrafa 36,21
Terceira garrafa 36,34
Considerando a situação hipotética apresentada, bem como os dados fornecidos a seguir, redija um laudo de análise justificando o procedimento experimental adotado e que apresente:
a. A equação química da reação ácido-base.
b. A determinação da concentração do ácido acético presente na bebida
c. A determinação do pH teórico inicial do vinho
d. A determinação do pH teórico do ponto de equivalência
e. A determinação do melhor indicador usado.
f. A determinação do teor alcoólico remanescente nas amostras de vinho analisadas

As perguntas abaixo não fazem parte da prova do INMETRO

g. De acordo com a sua experiência no assunto, discuta o procedimento adotado nesse experimento e descrito na prova do INMETRO.
h. Caso o vinho fosse tinto como você faria esta análise?
i. Os três clientes tinham razão em reclamar? Justifique!
j. Caso tenham razão, o que pode ter acontecido com a bebida?
k. Quais são os cuidados que os enófilos e os sommeliers fazem para preservar a bebida e favorecer o seu envelhecimento.

Passo 1

Aqui eu vou identificar claramente o que o enunciado pede e quais informações temos — só isso, sem resolver ainda.
  • O que pedem (itens a–k):
    a. Equação química da reação ácido-base usada na titulação.
    b. Concentração do ácido acético presente na bebida (cada amostra).
    c. pH teórico inicial do vinho (antes da titulação).
    d. pH teórico no ponto de equivalência da titulação.
    e. Indicação do melhor indicador colorimétrico para essa titulação.
    f. Teor alcoólico remanescente nas amostras (partindo da graduação indicada no rótulo de 12\% v/v e da suposição de que parte do etanol foi oxidada a ácido acético).
    g–k. Perguntas extras de discussão (procedimento, tinto, se clientes tinham razão, causas, cuidados de conservação).
  • Dados fornecidos (vou repetir exatamente os números para não confundir):
    • Aliquota titulada: 50{,}00\\ \mathrm{mL} de cada garrafa (cada amostra titulada em triplicata; o quadro dá o consumo médio de titulante).
    • Titulante: \mathrm{NaOH} 1{,}300\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}}.
    • Volumes médios de \mathrm{NaOH} consumidos:
      • Primeira garrafa: 35{,}45\\ \mathrm{mL}.
      • Segunda garrafa: 36{,}21\\ \mathrm{mL}.
      • Terceira garrafa: 36{,}34\\ \mathrm{mL}.
    • Densidade do álcool etílico: 0{,}8\\ \mathrm{g\\ cm^{-3}} (ou 0{,}8\\ \mathrm{g\\ mL^{-1}}).
    • Constante de ionização do ácido acético: \mathrm{K_a}=1{,}75\times10^{-5}.
    • Informação do rótulo: teor alcoólico 12\% (v/v).
Observações que já ficam claras e serão usadas: a reação de titulação é ácido fraco (ácido acético) + base forte (NaOH); no ponto de equivalência temos solução de acetato (base conjugada) e o pH será básico. Vou assumir, quando solicitado, que todo o ácido titulado é ácido acético formado pela oxidação de etanol (para estimar o álcool remanescente), a menos que eu diga explicitamente outra hipótese.

Passo 2

a) Equação química da reação ácido–base (relação estequiométrica).
  • A reação entre o ácido acético e o hidróxido de sódio é uma reação de neutralização simples, 1:1 molar. Em forma química:
\mathrm{CH_3COOH} + \mathrm{OH^-} \longrightarrow \mathrm{CH_3COO^-} + \mathrm{H_2O}
  • Explicação didática: cada mol de \mathrm{NaOH} fornece um íon \mathrm{OH^-} que retira um próton ( \mathrm{H^+}) do ácido acético, formando água e o ânion acetato. A estequiometria é importante: 1 mol \mathrm{NaOH} neutraliza 1 mol \mathrm{CH_3COOH}.

Passo 3

b) Determinação da concentração do ácido acético presente na bebida — passo a passo (cálculo das molaridades para as três amostras e média).
  • Método geral: para cada amostra calculo o número de mols de NaOH consumidos ( n_{\mathrm{NaOH}} = M_{\mathrm{NaOH}} \cdot V_{\mathrm{NaOH}} ), assumo reação 1:1 então n_{\mathrm{CH_3COOH}} = n_{\mathrm{NaOH}}, e então a concentração da amostra na alíquota é c = \dfrac{n_{\mathrm{CH_3COOH}}}{V_{\text{alíquota}}}í.
  • Dados constantes: M_{\mathrm{NaOH}}=1{,}300\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}}; V_{\text{alíquota}}=50{,}00\\ \mathrm{mL}=0{,}05000\\ \mathrm{L}í.
Agora cálculo para cada amostra:
  1. Primeira garrafa:
V_{\mathrm{NaOH}}=35{,}45\\ \mathrm{mL}=0{,}03545\\ \mathrm{L}
n_{\mathrm{NaOH}}=1{,}300\cdot 0{,}03545 = 0{,}046085\\ \mathrm{mol}
c_1=\dfrac{0{,}046085}{0{,}05000}=0{,}92170\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}}
Massa de ácido acético por litro (massa molar M_\mathrm{CH_3COOH}\approx60{,}05\\ \mathrm{g\\ mol^{-1}}):
\text{g L}^{-1}_1 = 0{,}92170\cdot60{,}05\approx55{,}33\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}
  1. Segunda garrafa:
V_{\mathrm{NaOH}}=36{,}21\\ \mathrm{mL}=0{,}03621\\ \mathrm{L}
n_{\mathrm{NaOH}}=1{,}300\cdot0{,}03621=0{,}047073\\ \mathrm{mol}
c_2=\dfrac{0{,}047073}{0{,}05000}=0{,}94146\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}}
\text{g L}^{-1}_2 = 0{,}94146\cdot60{,}05\approx56{,}56\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}
  1. Terceira garrafa:
V_{\mathrm{NaOH}}=36{,}34\\ \mathrm{mL}=0{,}03634\\ \mathrm{L}
n_{\mathrm{NaOH}}=1{,}300\cdot0{,}03634=0{,}047242\\ \mathrm{mol}
c_3=\dfrac{0{,}047242}{0{,}05000}=0{,}94484\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}}
\text{g L}^{-1}_3 = 0{,}94484\cdot60{,}05\approx56{,}73\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}
Média (molar):
\bar{c}=\dfrac{c_1+c_2+c_3}{3}=\dfrac{0{,}92170+0{,}94146+0{,}94484}{3}=0{,}93600\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}}
Média em \mathrm{g\\ L^{-1}}:
\overline{\text{g L}^{-1}} \approx 56{,}21\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}
  • Interpretação: essas concentrações representam o ácido acético (espécie volátil responsável por “acético” / “vinagre”) presente nas amostras.

Passo 4

c) Determinação do pH teórico inicial do vinho (antes da titulação) — teoria e cálculo.
  • Teoria rápida (fria, mastigada): ácido acético é um ácido fraco. Para um ácido fraco monoprótico \mathrm{HA} com concentração inicial c temos a dissociação
\mathrm{HA} \rightleftharpoons \mathrm{H^+} + \mathrm{A^-}
e a constante
K_a=\dfrac{[\mathrm{H^+}][\mathrm{A^-}]}{[\mathrm{HA}]}
Se x=[\mathrm{H^+}] for o grau de ionização, e se x\ll c, podemos aproximar
x\approx\sqrt{K_a\cdot c}.
Então o pH é \mathrm{pH}=-\log_{10}x.
  • Verifico a validade da aproximação: normalmente para c desta ordem (próxima de 1 M) a aproximação é válida porque x será bem menor que c.
Cálculos para cada amostra (uso K_a=1{,}75\times10^{-5}):
  1. Amostra 1 ( c_1=0{,}92170\\ \mathrm{M}):
[\mathrm{H^+}]\approx\sqrt{1{,}75\times10^{-5}\cdot0{,}92170}=\sqrt{1{,}61298\times10^{-5}}=4{,}016\times10^{-3}\\ \mathrm{M}
\mathrm{pH}_1=-\log_{10}(4{,}016\times10^{-3})\approx2{,}396\\ (\approx2{,}40)
  1. Amostra 2 ( c_2=0{,}94146\\ \mathrm{M}):
[\mathrm{H^+}]\approx\sqrt{1{,}75\times10^{-5}\cdot0{,}94146}=4{,}059\times10^{-3}\\ \mathrm{M}
\mathrm{pH}_2\approx2{,}391\\ (\approx2{,}39)
  1. Amostra 3 ( c_3=0{,}94484\\ \mathrm{M}):
[\mathrm{H^+}]\approx\sqrt{1{,}75\times10^{-5}\cdot0{,}94484}=4{,}067\times10^{-3}\\ \mathrm{M}
\mathrm{pH}_3\approx2{,}390\\ (\approx2{,}39)
Média de pH inicial: aproximadamente 2{,}39 2{,}40.
  • Comentário didático: pH tão baixo indica acidez muito forte do tipo “vinagre”; vinhos bons normalmente têm pH em torno de 3{,}0 3{,}8. Esse valor confirma que há concentração elevada de ácido acético.

Passo 5

d) Determinação do pH teórico do ponto de equivalência — teoria e cálculo.
  • Teoria (mastigada): no ponto de equivalência de um ácido fraco titulado com base forte, todo o ácido foi convertido em seu sal (aqui \mathrm{CH_3COO^-}). Essa espécie é básica (hidrolisa na água):
\mathrm{CH_3COO^-} + \mathrm{H_2O} \rightleftharpoons \mathrm{CH_3COOH} + \mathrm{OH^-}
A constante K_b da base conjugada é dada por
K_b=\dfrac{K_w}{K_a}
com K_w=1{,}0\times10^{-14} (a 25^\circ\mathrm{C}). Para uma solução de concentração c_s de \mathrm{CH_3COO^-}, a concentração de [\mathrm{OH^-}] na aproximação x\ll c_s é
[\mathrm{OH^-}]\approx\sqrt{K_b\cdot c_s}.
Então \mathrm{pOH}=-\log_{10}[\mathrm{OH^-}] e \mathrm{pH}=14-\mathrm{pOH}.
  • Primeiro calculo K_b:
K_b=\dfrac{1{,}0\times10^{-14}}{1{,}75\times10^{-5}}=5{,}7142857\times10^{-10}.
  • Agora a concentração do sal no ponto de equivalência: \displaystyle c_s=\dfrac{n_{\mathrm{acetato}}}{V_{\text{total}}}, onde V_{\text{total}}=V_{\text{alíquota}}+V_{\mathrm{NaOH}}í.
Faço para cada amostra:
  1. Amostra 1:
n=0{,}046085\\ \mathrm{mol},\qquad V_{\text{total}}=0{,}05000+0{,}03545=0{,}08545\\ \mathrm{L}
c_{s1}=\dfrac{0{,}046085}{0{,}08545}=0{,}5393\\ \mathrm{M}
[\mathrm{OH^-}]\approx\sqrt{5{,}714\times10^{-10}\cdot0{,}5393}=1{,}756\times10^{-5}\\ \mathrm{M}
\mathrm{pOH}_1=-\log_{10}(1{,}756\times10^{-5})\approx4{,}756
\mathrm{pH}_1=14-4{,}756\approx9{,}244\\ (\approx9{,}24)
  1. Amostra 2:
n=0{,}047073\\ \mathrm{mol},\qquad V_{\text{total}}=0{,}05000+0{,}03621=0{,}08621\\ \mathrm{L}
c_{s2}=\dfrac{0{,}047073}{0{,}08621}=0{,}5462\\ \mathrm{M}
[\mathrm{OH^-}]\approx\sqrt{5{,}714\times10^{-10}\cdot0{,}5462}=1{,}767\times10^{-5}\\ \mathrm{M}
\mathrm{pH}_2\approx14-(-\log_{10}(1{,}767\times10^{-5}))\approx9{,}248
  1. Amostra 3:
n=0{,}047242\\ \mathrm{mol},\qquad V_{\text{total}}=0{,}05000+0{,}03634=0{,}08634\\ \mathrm{L}
c_{s3}=\dfrac{0{,}047242}{0{,}08634}=0{,}5472\\ \mathrm{M}
[\mathrm{OH^-}]\approx1{,}769\times10^{-5}\\ \mathrm{M}
\mathrm{pH}_3\approx9{,}248
  • Resultado: o pH no ponto de equivalência fica em torno de 9{,}24 9{,}25. Isso significa que o ponto de equivalência é claramente básico.

Passo 6

e) Determinação do melhor indicador usado — explicação e justificativa.
  • Regra prática (didática): um bom indicador muda de cor em um intervalo de pH que contenha o pH da virada da titulação (aproximadamente o pH no ponto de equivalência). Para ácido fraco/ base forte, o ponto de virada é básico (aqui ~ 9{,}25). Indicadores típicos e seus intervalos:
    • Metil laranja: 3{,}1\!-\!4{,}4 (inadequado).
    • Fenolftaleína: 8{,}2\!-\!10{,}0 (muito adequado).
    • Alaranjado de metila: 3{,}1\!-\!4{,}4 (inadequado).
    • Tornassol / azul bromotimol: 6{,}0\!-\!7{,}6 (muito baixo).
  • Conclusão: o melhor indicador para essa titulação é a fenolftaleína, pois seu intervalo de virada ( \approx8{,}2\!-\!10{,}0) inclui o pH de equivalência calculado ( \approx9{,}25). A fenolftaleína torna a virada fácil de enxergar (incolor → rosa) e é o padrão em titulações ácido acético vs NaOH.
  • Observação prática sobre gotas de indicador: o enunciado menciona uso de 2 a 8 gotas por 100 mL; isso é só para padronizar intensidade de cor e não altera a estequiometria. Usar algumas gotas suficientes para ver mudança sem excesso é apropriado.

Passo 7

f) Determinação do teor alcoólico remanescente nas amostras — hipótese e cálculo.
  • Hipótese adotada (explicitando): suponho que o vinho originalmente tinha 12\% v/v de etanol, e que parte do etanol foi oxidada completamente a ácido acético (reação global simplificada: 1\\ \text{mol etanol}\to1\\ \text{mol ácido acético}áé). Com esta hipótese posso estimar quanto etanol restou a partir da quantidade de ácido acético medida. É uma hipótese padrão para estimativa rápida; na prática podem existir outras fontes de ácido acético.
  • Cálculo do etanol inicial por alíquota de 50\\ \mathrm{mL}:
\text{volume etanol inicial} = 0{,}12\cdot50{,}00=6{,}00\\ \mathrm{mL}
massa do etanol inicial: m=\rho\cdot V=0{,}8\\ \mathrm{g\\ mL^{-1}}\cdot6{,}00\\ \mathrm{mL}=4{,}80\\ \mathrm{g}.
mols iniciais de etanol: \displaystyle n_{\mathrm{EtOH,0}}=\dfrac{4{,}80}{46{,}07}=0{,}10419\\ \mathrm{mol} (massa molar \approx46{,}07\\ \mathrm{g\\ mol^{-1}}).
  • Para cada amostra subtraio os mols de ácido (que corresponde, pela hipótese 1:1, aos mols de etanol oxidados) dos mols iniciais para obter os mols de etanol remanescentes; converto para volume e para \% v/v na alíquota:
  1. Amostra 1:
n_{\mathrm{Ox}}=0{,}046085\\ \mathrm{mol}\quad\Rightarrow\quad n_{\mathrm{EtOH,rem}}=0{,}10419-0{,}046085=0{,}058106\\ \mathrm{mol}
massa remanescente =0{,}058106\cdot46{,}07=2{,}6759\\ \mathrm{g}
volume remanescente =\dfrac{2{,}6759}{0{,}8}=3{,}345\\ \mathrm{mL}
teor remanescente na alíquota =\dfrac{3{,}345}{50{,}00}=0{,}06690\Rightarrow6{,}69\%\\ \text{v/v}
  1. Amostra 2:
n_{\mathrm{Ox}}=0{,}047073\\ \mathrm{mol}\quad\Rightarrow\quad n_{\mathrm{EtOH,rem}}=0{,}057118\\ \mathrm{mol}
massa remanescente \approx2{,}629\\ \mathrm{g}, volume \approx3{,}286\\ \mathrm{mL}, teor \approx6{,}57\%\\ \text{v/v}.
  1. Amostra 3:
n_{\mathrm{Ox}}=0{,}047242\\ \mathrm{mol}\quad\Rightarrow\quad n_{\mathrm{EtOH,rem}}=0{,}056949\\ \mathrm{mol}
massa remanescente \approx2{,}622\\ \mathrm{g}, volume \approx3{,}278\\ \mathrm{mL}, teor \approx6{,}56\%\\ \text{v/v}.
Média aproximada do teor remanescente: \approx6{,}61\%\\ \text{v/v}.
  • Observação crítica: essa estimativa supõe que todo o ácido acético detectado veio de oxidação do etanol e que não houve perda de etanol por evaporação, nem outras reações, nem que existia ácido acético pré-existente; é uma aproximação razoável para estimativa rápida, mas para resultados oficiais seria preciso método direto para etanol (ex.: titulometria redutora, densimetria, cromatografia a gás).

Passo 8

g) Discussão do procedimento adotado (minha experiência / crítica prática).
  • Pontos positivos: titulação ácido-base com NaOH padrão é método simples, robusto e adequado para detectar e quantificar ácido acético. Fazer triplicatas e usar solução padrão de concentração conhecida ( 1{,}300\\ \mathrm{M}) dá precisão razoável. Mostrar volumes médios aumenta confiabilidade.
  • Pontos a melhorar / riscos:
    • Em vinhos gostaríamos de eliminar interferentes (taninos, corantes, outros ácidos) que possam afetar leitura visual; para amostras coloridas a titulação visual pode falhar.
    • A fenolftaleína é apropriada aqui, mas se a amostra for colorida a mudança de cor pode ficar difícil de enxergar; alternativa: titulador potenciométrico (pHmetro) ou extração prévia.
    • A suposição de que todo o ácido acético provém de etanol oxidado é forte — pode existir ácido acético residual da vinificação ou contaminação prévia.
    • É recomendável reportar incertezas associadas a volumes e à concentração do titulante.

Passo 9

h) Se o vinho fosse tinto, como fazer a análise?
  • Problema: a cor (tinto) atrapalha detecção visual do ponto final com indicadores coloridos. Soluções práticas:
    • Titulação potenciométrica (uso de eletrodo de pH): método ideal — detecta mudança abrupta de pH no ponto de equivalência independentemente da cor.
    • Alternativa: preparação/extracção aquosa da fração a titular (diluir e clarificar, filtrar, eventualmente fazer uma pré-extracção do componente colorido) antes de titular; ou realizar back-titration com indicador que tenha contraste (difícil).
    • Métodos instrumentais: cromatografia a gás (GC) para quantificar etanol e ácidos voláteis, ou métodos enzimáticos específicos para ácido acético.
  • Conclusão: para tinto eu usaria pHmetro e/ou GC para maior segurança.

Passo 10

i) Os três clientes tinham razão em reclamar? Justifique!
  • Sim, tinham razão. Justificativa técnica: as amostras apresentam concentração de ácido acético da ordem de \sim56\\ \mathrm{g\\ L^{-1}} ( \sim0{,}94\\ \mathrm{M}), que corresponde a cerca de 5{,}6\% p/p ou \sim56\\ \mathrm{g/L} — valor típico de vinagre (5–7% acético), muito acima dos níveis normais aceitáveis para vinho (tipicamente <1{,}0\\ \mathrm{g\\ L^{-1}} como acidez volátil aceitável; limites legais/organolépticos são bem inferiores). O pH muito baixo ( \approx2{,}4) e o cheiro acético descrito pelos clientes também confirmam que há deterioração por aceticidade. Portanto as queixas sobre sabor amargo/ácido e odor levemente acético são coerentes com os valores medidos.

Passo 11

j) Caso tenham razão, o que pode ter acontecido com a bebida?
  • Provável causa principal: oxidação microbiana do etanol por bactérias acéticas (gênero Acetobacter) em presença de oxigênio, formando ácido acético (processo de acetificação). Causas que favorecem isso:
    • Exposição ao ar (rolha mal vedada, cork taint com entrada de oxigênio, garrafa parcialmente vazia por armazenamento longo).
    • Armazenamento em condições inadequadas (temperaturas altas, vibração).
    • Contaminação durante engarrafamento ou armazenamento.
    • Falha no controle microbiológico durante a vinificação ou guarda.

Passo 12

k) Cuidados que enófilos e sommeliers fazem para preservar a bebida e favorecer envelhecimento
  • Práticas de conservação e envelhecimento:
    • Manter temperatura estável e fresca (geralmente 10\!-\!16^\circ\mathrm{C} para vinhos que envelhecem; temperaturas mais baixas para espumantes).
    • Evitar luz direta (fotodegrada o vinho).
    • Controle de umidade (~50–80%) para preservar a rolha (evitar ressecamento/entrada de ar).
    • Guardar garrafas deitadas quando rolha natural (mantém a rolha úmida e vedada).
    • Evitar vibrações e movimentos constantes.
    • Minimizar entrada de oxigênio (engarrafamento adequado, uso de cápsulas/rolhas apropriadas, preservadores inertes se garrafa aberta).
    • Higiene no engarrafamento/serviço para evitar contaminação microbiana.
    • Para serviço: decantar quando necessário, servir na temperatura correta e usar taças adequadas; para garrafas abertas usar tampas herméticas ou gás inerte para preservar o vinho.

Resposta

a. \mathrm{CH_3COOH} + \mathrm{OH^-} \longrightarrow \mathrm{CH_3COO^-} + \mathrm{H_2O}
b. Primeira: c_1=0{,}92170\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}} ( \approx55{,}33\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}).\nSegunda: c_2=0{,}94146\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}} ( \approx56{,}56\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}).\nTerceira: c_3=0{,}94484\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}} ( \approx56{,}73\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}).\nMédia: \bar{c}=0{,}93600\\ \mathrm{mol\\ L^{-1}} ( \approx56{,}21\\ \mathrm{g\\ L^{-1}}).
c. \mathrm{pH}_{\text{inicial}} 2{,}40 (amostras: 2{,}40,\\\ 2{,}39,\\\ 2{,}39; média ≈ 2{,}39).
d. \mathrm{pH} no ponto de equivalência ≈ 9{,}24 9{,}25 (amostras: 9{,}244,\\\ 9{,}248,\\\ 9{,}248).
e. Melhor indicador: fenolftaleína (intervalo de virada ≈ 8{,}2\!-\!10{,}0, cobre \mathrm{pH}_{eq}\approx9{,}25).
f. Teor alcoólico remanescente estimado (hipótese 1:1 EtOH→CH3COOH):\nPrimeira: \approx6{,}69\% v/v.\nSegunda: \approx6{,}57\% v/v.\nTerceira: \approx6{,}56\% v/v.\nMédia ≈ 6{,}61\% v/v.
g. Comentário crítico: a titulação é adequada e robusta para quantificar ácido acético, triplicatas e padrão são bons; limpar interferentes e, para amostras coloridas, preferir titulação potenciométrica ou GC; atenção à hipótese de origem do ácido (nem sempre vem só do etanol oxidado).
h. Vinho tinto: evitar titulação visual; usar pHmetro (titulação potenciométrica) ou métodos instrumentais (GC para ácidos voláteis) ou clarificar/extrair antes da titulação.
i. Sim: os clientes tinham razão — níveis de ácido acético medidos ( \sim56\\ \mathrm{g/L}) são compatíveis com vinagre e muito acima dos limites organolépticos aceitáveis para vinho; justificam sabor amargo/ácido e odor acético.
j. Provável causa: oxidação microbiológica do etanol por bactérias acéticas (Acetobacter) em presença de oxigênio (rolha com passagem de ar, armazenamento inadequado, contaminação), levando à acetificação.
k. Cuidados de conservação/envelhecimento: temperatura estável e fresca, ausência de luz direta, umidade adequada, garrafas deitadas com rolha natural, evitar vibração, minimizar oxigenação (rolhas/cápsulas/uso de gases inertes após abertura), higiene no engarrafamento e serviço.

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