Leia os textos jornalísticos abaixo.
Texto 1: “O respeito às unidades de conservação e às terras indígenas já demarcadas - que juntas correspondem a cerca de
da Amazônia Legal - garantiria a permanência da floresta e impediria a transformação da mata em savana.”
O Estado de S. Paulo, 16/06/2009. Adaptado.
Texto 2: “O atual modo de desenvolvimento da Amazônia está muito longe do desejável. É preciso incentivar as populações florestais a conduzirem atividades de desenvolvimento sustentável, remunerando, por exemplo, os serviços voltados ao ecossistema prestados pelos habitantes da floresta.”
Le Monde, 16/06/2009. Adaptado.
Por que a preservação da Amazônia Legal não é suficiente para garantir a manutenção da biodiversidade no Brasil?
Texto 1: “O respeito às unidades de conservação e às terras indígenas já demarcadas - que juntas correspondem a cerca de
Texto 2: “O atual modo de desenvolvimento da Amazônia está muito longe do desejável. É preciso incentivar as populações florestais a conduzirem atividades de desenvolvimento sustentável, remunerando, por exemplo, os serviços voltados ao ecossistema prestados pelos habitantes da floresta.”
Por que a preservação da Amazônia Legal não é suficiente para garantir a manutenção da biodiversidade no Brasil?
Passo 1
O enunciado traz dois trechos jornalísticos. Do Texto 1 temos a informação de que o respeito às unidades de conservação e às terras indígenas já demarcadas — que juntas correspondem a cerca de
da Amazônia Legal — garantiria a permanência da floresta e impediria sua transformação em savana. Do Texto 2 temos a afirmação de que o modo atual de desenvolvimento da Amazônia não é desejável e a sugestão de incentivar populações locais a conduzir atividades de desenvolvimento sustentável (por exemplo, remunerando serviços ecossistêmicos).
A pergunta que preciso responder é: “Por que a preservação da Amazônia Legal não é suficiente para garantir a manutenção da biodiversidade no Brasil?”
Informações relevantes dadas pelo enunciado que vou usar: a menção explícita a da Amazônia Legal já cobertos por unidades de conservação e terras indígenas; a sugestão de que proteção formal por si só pode não bastar e que são necessárias práticas sustentáveis e incentivos às populações locais.
Informações relevantes dadas pelo enunciado que vou usar: a menção explícita a
Passo 2
Primeiro, vamos entender o que é “biodiversidade” de forma prática. Biodiversidade é a variedade de formas de vida em vários níveis: genes, espécies e ecossistemas. Três medidas que ajudam a pensar nisso são:
-
-diversidade: número de espécies num local (riqueza local). Ex.: uma clareira com 20 espécies de plantas tem . -
-diversidade: diferença de espécies entre lugares (turnover). Ex.: se floresta A tem espécies e floresta B tem , o turnover é alto. -
-diversidade: riqueza regional (total de espécies em uma região maior).
Explicando com exemplo concreto: imagine três biomas (A, B, C). Cada bioma tem espécies que só existem ali. Mesmo que eu proteja todo o Bioma A muito bem, as espécies endêmicas de B e C continuarão desprotegidas. Isso mostra que proteger só uma região não cobre a diversidade regional (
).
Passo 3
O Brasil tem vários biomas além da Amazônia: Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. Muitas espécies são endêmicas (vivem só ali) fora da Amazônia. Logo, preservar apenas a Amazônia (por melhor que seja) não protege a biodiversidade dessas outras regiões. Em termos simples: proteger só uma parte do mapa não preserva todas as espécies do mapa.
Passo 4
Mesmo dentro da Amazônia, proteger área não é o mesmo que proteger toda a diversidade de habitats. A “representatividade” é um conceito importante: unidades de conservação precisam incluir todos os tipos de habitat (várzea, terra firme, campinarana, igapó, ecótonos, serras, altitudes etc.). Muitas vezes as áreas protegidas ficam em regiões remotas, planas e de menor interesse econômico — isto é chamado de “reserva residual” — e deixam de fora habitats raros ou ricos em espécies. Resultado: certos ecossistemas e espécies continuam vulneráveis apesar da alta porcentagem de área protegida.
Passo 5
Conectividade e fragmentação importam muito. Se eu tenho várias áreas protegidas pequenas e isoladas, ocorrem:
- efeitos de borda (mais predadores, secagem, invasões de espécies exóticas nas bordas),
- queda do fluxo gênico (menos cruzamentos entre populações),
- aumento do risco de extinção local por deriva genética e eventos estocásticos.
Conceito útil: populações pequenas têm maior probabilidade de extinção. Por exemplo, uma população de
indivíduos tende a ser muito mais vulnerável do que uma de
. Portanto, sem corredores e paisagens conectadas, a proteção pontual não garante viabilidade de populações a médio e longo prazo.
Passo 6
“Protegido no papel” nem sempre é “protegido na prática”. A eficácia da proteção depende de fiscalização, gestão adequada e financiamento. Problemas como extração ilegal (madeira, minérios), queimadas, pecuária clandestina, invasões e falta de monitoramento tornam muitas unidades de conservação vulneráveis. Assim, a mera existência de unidades não basta: é preciso que elas funcionem efetivamente.
Passo 7
Muitos processos ecológicos ultrapassam limites de unidades: ciclos hidrológicos, migrações animais, dispersão de sementes por aves e morcegos, polinização por insetos. Esses processos dependem de paisagens maiores e de zonas fora das áreas protegidas. Sem uma matriz ambiental (a paisagem entre as reservas) de qualidade, esses serviços e processos se degradam e comprometerão a biodiversidade mesmo dentro das reservas.
Passo 8
As mudanças climáticas mudam o “endereço” adequado para muitas espécies. À medida que temperatura e precipitação mudam, espécies precisam mover-se para encontrar condições apropriadas. Áreas protegidas fixas e isoladas podem não permitir esses deslocamentos. Por isso é importante proteger gradientes ambientais e conectar áreas, para que as espécies possam acompanhar as mudanças climáticas.
Passo 9
Questão social e econômica: populações locais dependem de recursos e precisam de alternativas sustentáveis. O Texto 2 sugere remunerar serviços ecossistêmicos — isso é importante porque, sem incentivos e alternativas de renda, a pressão sobre florestas continuará (ex.: desmatamento para agricultura, pecuária, mineração). A conservação eficaz combina proteção com políticas que integrem uso sustentável e bem-estar humano.
Passo 10
Resumo dos pontos-chave que explicam por que preservar só a Amazônia Legal (mesmo com
protegido) não é suficiente para manter a biodiversidade do Brasil:
- biodiversidade brasileira está espalhada por vários biomas além da Amazônia;
- proteção precisa ser representativa (todos os habitats/ecorregiões), não apenas extensa;
- unidades isoladas sofrem com fragmentação, efeitos de borda e perda de fluxo gênico;
- unidades “no papel” exigem gestão, fiscalização e financiamento reais;
- processos ecológicos e espécies migratórias exigem paisagens maiores e conectadas;
- mudanças climáticas exigem redes protegidas ao longo de gradientes para permitir deslocamentos;
- é preciso integrar conservação com desenvolvimento sustentável e incentivos às populações locais (como pagamento por serviços ambientais).
Resposta
Porque a biodiversidade do Brasil não está concentrada só na Amazônia: há espécies endêmicas em outros biomas (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa), e além disso proteger área não basta—é preciso representatividade de habitats, conectividade entre unidades, gestão/fiscalização efetiva, manutenção de processos ecológicos em escala de paisagem e políticas que integrem conservação e desenvolvimento sustentável; sem tudo isso, mesmo
de proteção da Amazônia Legal não garante a manutenção da biodiversidade nacional.